sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"Algumas pessoas mantêm relações para se sentirem integradas na sociedade, para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas, para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça."
 
Drauzio Varella

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Ele disse que ama a mulher, que continua a gostar do ambiente que vive em casa, de voltar para lá e para ela, ao final do dia. Que continua presente na vida dela, na vida deles. Disse que tem a vida a dois, as pequenas tarefas como fazer pequenas obras em casa, que são coisas que lhe continuam a dar prazer. E contou que ainda há pouco tempo fizeram alterações em casa. Os dois. Enquanto contava, contava com prazer e afeição e explicava as mudanças que fizeram e os novos móveis que têm visto ao fim-de-semana na Moviflor e no Ikea.
Enquanto falava com o amigo, junto à máquina do café, durante a pausa da manhã, ele disse três vezes que ama a mulher. Mas, claro, há sempre um mas. Enquanto repetiu três vezes que ama a mulher e disse duas vezes que nunca a traiu, em dois anos de namoro, dez anos de casamento e um filho, quando chegou a hora do mas, esta conjugação não parou de ser repetida. Com a repetição veio a força das palavras e o desabafo. Ele disse que apesar do bem-estar que sente na relação, no casamento e em casa, existe outra pessoa que não lhe sai da cabeça. Um assunto do passado. Um assunto tão bem arrumado e defenido que, afinal, ele agora percebe que quando menos espera, o assunto assalta-lhe o pensamento. E por dias, semanas, esse assunto do passado não se afasta. Acorda com ele, vive o dia com ele e adormece com ele. Confessou ao amigo que o assunto do passado, afinal, nunca lhe foi indiferente e que agora é diferente. Afirmou ao amigo que quer voltar a estar com o assunto do passado e que tal ainda não aconteceu porque a outra parte, ainda que dê abertura, garantiu, está reticente. Ela também é casada, contou ao amigo, e para ela, que mostra que também quer repetir os sentimentos do passado, é difícil evoluir para a parte física, por causa da pressão do casamento. Continuando no desabafo com o amigo, confessou-lhe que passa os dias a trocar emails com o assunto do passado e que até já saltou uma tarde de trabalho para ficar dentro do carro a conversar com o assunto do passado. Toda a tarde e gostou, contou. Sinto-me bem, gosto. Mais do que sentir desejo, sinto-me bem, gosto daquilo que sinto quando estou com ela, dizia ao amigo. Depois, voltou a dizer que ama a mulher e descaiu-se com o amigo que depois do nascimento do filho, há dois anos, a rotina sexual deixou de ser como era. Desculpando-se logo a seguir, dizendo que não era por isso que se reaproximou do assunto do passado. Por fim, questionou o amigo se aquilo que anda a fazer pode já ser considerado uma traição. E terminou. Disse ao amigo que aquilo que quer é aproveitar a situação, o momento, e tudo aquilo que poderá vir da aproximação ao assunto do passado. Sem pensar no assunto casamento, casa, família, assunto esse que fica de lado nos momentos em que troca emails com o assunto do passado ou sai de casa ou do trabalho para se encontrar com o assunto do passado. E encolheu os ombros.


"Só ainda não saltaram para o envolvimento físico, porque ela ainda não deixou", atirou Mulher para o ar, ao chegar perto da máquina de café. Ainda, disse ele; vai deixar, disse o amigo, com uma palmadinha nas costas.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Adão e Eva

A maçã mordida pelo homem e pela mulher, juntos, ao mesmo tempo, ou em separado. O pecado original e o pecado repetido. O pecado inocente versus a inocência do pecado. Todos os dias, em pensamentos e acções. Fazê-los pecar, fazer com que confessem o pecado. Obrigá-los a confessar... o amor, a paixão, o tesão. Tudo. Questionar todos os dias: Teria Eva mordido a maçã se já conhecesse a cabeça de Adão. Sem promessas e sem compromissos, embarco na aventura de comer a maçã... de Adão.